quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Silêncio e fumaça.

Saiu do bar em câmera lenta, levando consigo uma garrafa de conhaque de alcatrão, que foi a única que conseguiu convencer o balconista a vender. Não tinha nenhuma pressa, pois era uma longa caminhada até sua casa. Fumava os cigarros mais amassados que já se viu, um atrás do outro, acompanhando o fluxo de bebida. A despeito do estado lastimável, mantinha um bom ritmo, deixando um rastro de silêncio e fumaça. No último quarteirão secou a garrafa. A partir daí estava por conta própria...

Sete passos. Era mais ou menos o espaço que o separava da porta quando estancou. Apesar de sua cabeça estar muito mais distante. Isso e a embriaguez o mantiveram plantado ali um bom tempo, como se míseros sete passos fossem uma imensidão repleta de obstáculos a ser atravessada. Tateava no bolso o molho familiar de chaves, como se pudesse pescar a consciência e a realidade com elas em meio ao mar confuso de sentimentos que se agitava em sua mente.

Tirando forças de alguma reserva oculta, se empertigou e caminhou o menos trôpego que pôde. E ao abrir finalmente a porta, a realidade solidificou-se tão dura como ele temia. O apartamento vazio estava silencioso como um túmulo. Não tinha sido um sonho ruim. Chorou até dormir, encostado num canto da sala, enquanto lá fora o sol brilhava para quase todos.

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