Tinha
os pés e a consciência leves. Bailava através da existência feito folha ao
vento, ensaiando voos despreocupados sobre a relva verde da vida, que tinha
toda pela frente ainda. Sua figura se destacava em meio à massa de corpos que
se acotovelavam pelas calçadas do centro, deslizando suave através da multidão.
Pousou numa banca de flores, detendo-se bom tempo a escolher minuciosamente um
ramalhete, com carinho especial. Então, carregada de flores sob o céu indecentemente
azul daquele dia, voltou ao seu caminho, feito uma miragem que se deslocasse na
aridez da tarde.
A
luz oblíqua do ocaso já se esvaía quando ela saiu pelo portão do campo santo. Andava
com a mesma graça, embora seu ar jovial estivesse ligeiramente embaçado. Não
parecia triste, apenas mais consciente da consistência das coisas a sua volta.
Nos olhos levemente marejados esboçava um sorriso de quem divaga em lembranças.
Seus pés continuavam leves, mas tocavam o chão.