Pela
janela entrava uma brisa sem vergonha, a água do café fervia. A manhã que se
anunciava trazia uma promessa velada, mas tão tímida que se fazia indecifrável.
Precisava de um banho, a noite em claro não cancelara os compromissos do dia...
Fechou a porta, uma volta na chave, como sempre. Ignorou a escada e o corredor
cotidianos, e até a luz difusa do dia nublado ao sair para a rua. Na turbidez
que preenchia sua mente apenas seu destino era claro. O silêncio coletivo no
ponto de ônibus sendo aos poucos substituído pelo murmúrio incessante das
conversas e do trânsito crescente; a beleza fugidia de um raio de sol que
escapava das nuvens pra iluminar uma cena, como um efeito de palco; o despertar
ruidoso da cidade, feito água levantando fervura; apenas borrões indistintos no
seu percurso.
A
casa tinha uma fachada neocolonial, de cor indistinta, dando impressão de que
não era pintada há muito tempo. O portão de ferro fundido só ampliava esse ar
de idade e, pelo estado da ferrugem, de certa decrepitude. Tudo isso reforçado
pelo jardim malcuidado e sombreado por duas grandes arvores. Entrou com passos
firmes deixando o rangido e o baque metálico do portão atrás de si, como se
fossem um sinal de desligamento com o resto do mundo. Bateu três vezes à porta.
Nunca mais se teve notícia sua...
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